Imagem capa - Narrando histórias em um álbum de casamento por Aline Evelin
Narrativas

Narrando histórias em um álbum de casamento

Boa tarde pessoal...

Me apresento como colunista no Blog Wedding Brasil, um dos conteúdos de maior qualidade para fotógrafos de casamento de todo o Brasil! 

É realmente uma honra poder aparecer por lá!


Resolvi compartilhar o conteúdo dessas matérias que tenho escrito para o BWB para que os fotógrafos que não tiveram acesso por lá possam conferir o discurso sobre narrativa, e mais do que isso, que um novo público possa ter contato com a relevância que a narrativa tem dentro de uma história de casamento: as noivas! 

Quem sabe com esses pequenos textos eu possa ajudá-las a selecionar as fotos que farão parte do seu livro de casamento!

Então, sejam todos BEM VINDOS!!!



Fotografia: Nei Bernardes



A confusão se instaurou quando iniciei meu projeto para a monografia na graduação de Publicidade e Propaganda, minha professora argumentava que não havia estudo específico sobre o design de álbuns, logo era um assunto muito abstrato, sem embasamento teórico. É verdade, não existe pesquisa na área. Porque será que um tema que eu adoro tanto nunca foi estudado antes? O mundo parecia ser muito injusto! A orientadora então sugeriu o embasamento no design editorial! E eu que nunca tinha ouvido falar no assunto, ou pelo menos não com esse nome, fui pesquisar!

Foi quando começou a surgir muitas analogias… Bem, no design editorial também existe identidade visual (é lá que existe), tem ritmo, diálogo, movimento, simetria, assimetria, minimalismo, tipografias, cores! Tem tudo o que é usado nos livros de fotografia! Naquelas pesquisas li uma frase (da qual hoje não consigo descobrir a autoria): o design editorial está a serviço das palavras. E é para isso que existe o design de livros de fotografia, porém ao invés de palavras, trabalhamos com fotos… Isso me parecia fazer todo o sentido! Estava passando a perceber o design como algo ainda mais importante, não em si mesmo, mas para valorizar algo maior: uma história!

O start final aconteceu quando, por força do destino, passei a fotografar casamentos, depois de 8 anos trabalhando na pós produção aqui na Beth Esquinatti e Nei Bernardes (na época o Nei nem trabalhava aqui ainda, risos), pensando muito mais em retratar uma história, com seus ápices, com seus detalhes, com seus personagens principais e coadjuvantes. Não que eu vá para o casamento diagramando fotos no álbum, mas sim imaginando como criar um enredo com todos aqueles elementos. Estar fotografando me aproximou muito mais das pessoas, e daquilo que faz sentido para elas. Assim fui me dando conta de que todos os conceitos composicionais que estudava não eram nada sem conteúdo. E, apesar de eu começar a sentir que não haviam muitas novidades para criar em termos de design nas páginas do álbum, o tema enredo é algo inesgotável e diferente a cada novo projeto.

Nos primeiros estudos de narrativa logo surgem os elementos principais: o tempo, o espaço e os personagens! E é sobre o tempo que vamos falar hoje! Para uma história ser bem contada é necessário que todos possam entender como acontece a cronologia! Em que era estamos situados?! Sabe aquelas fotos em que quase todos os convidados estão com o celular nas mãos? Eu acredito que essas fotos são do tipo “datadas”, afinal, representam a nossa era, e certamente vão parecer estranhas ou até mesmo “fora de moda” quando a tecnologia que usamos hoje for substituída. Não quero entrar em um assunto muito complexo, mas apenas questionar, será que essas fotos não falam sobre o comportamento da sociedade como um todo?

Ainda sobre a cronologia, em qual espaço de tempo as coisas acontecem? Se for um casamento, ele foi realizado em três dias, em treze horas ou em três horas? É tão importante mostrarmos que existe uma passagem de tempo. A passagem de horas pode ser entendida pelos costumes e ações que nossos personagens estão fazendo. Vejam como o ato “escovar os dentes” (na imagem acima) passa uma ideia de que a noiva está pronta para se vestir e ir casar. E aquele soninho depois do almoço, sabe? Veja como os pais e o noivo não estão prontos para o casamento ainda:



Fotografia: Aline Evelin



Todas as transições são muito relevantes na história. Como fotógrafos/ diagramadores/locutores devemos pensar que esse livro foi feito para vários públicos diferentes. Existem os noivos, que sabem exatamente como a história aconteceu, mas também existem os filhos e netos que nem nasceram ainda, esses ficariam muito felizes em entender a narrativa com a maior riqueza de informações relevantes quanto for possível. Essa foto abaixo, por exemplo, é do momento em que as pessoas começam a chegar. Podemos entender um pouco da locação, do horário, do clima.



Fotografia: Aline Evelin



E assim a história vai acontecendo, com as entradas. A tão esperada entrada da noiva:



Fotografia: Nei Bernardes




E mesmo durante a cerimônia, percebam como as fotos que contém ações ficam bem mais interessantes e vão apresentando uma evolução dos acontecimentos!



Fotografia: Aline Evelin




Essa foto que podemos ver o céu (apesar de não mostrar a posição exata do sol), nos localiza e faz imaginar que sejam umas cinco horas da tarde aqui no verão do Rio Grande do Sul.



Fotografia: Aline Evelin




Percebam que mesmo sem ver tudo o que aconteceu como a troca de alianças, o beijo, as assinaturas, ainda assim podemos entender com uma foto de saída que tudo isso já passou (não dispensando essas fotos do álbum, claro). A transição da saída dos noivos indica que algo acabou para iniciar algo novo, como se fosse um novo capítulo do nosso livro!



Fotografia: Nei Bernardes



E na chegada dos noivos na recepção, uns 30 minutos depois da foto anterior, percebam como o sol já caiu, indicando que vamos noite a dentro.



Fotografia: Nei Bernardes




A história continua, e selecionei apenas poucas imagens para ilustrar algumas transições que acontecem em todos os conteúdos que estivermos fotografando (existem transições nos aniversários infantis, nas formaturas, nas bodas de ouro…). Contudo, algumas vezes podemos acabar não valorizando fotos que podem ser simples, mas tem um forte apelo dentro da história! Entender a relevância do enredo dentro de uma reportagem fotográfica é crucial para um resultado final que vá além de um simples registro. Acontece quando estamos preocupados em perseguir histórias verdadeiras, com início, meio e fim!


Por: Aline Evelin - fotógrafa e designer de álbuns especialista em contar histórias